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Terapia Larval: Quando as Larvas Se Tornam Aliadas na Cicatrização de Feridas Complexas

  • Foto do escritor: cicatrivitta
    cicatrivitta
  • 17 de mar.
  • 3 min de leitura


A ideia de utilizar larvas para tratar feridas pode parecer estranha à primeira vista, mas a terapia larval — também conhecida como bio debridamento ou biocirurgia — é uma técnica cientificamente embasada que tem se mostrado eficaz na cicatrização de feridas complexas. Originária da antiguidade, a prática foi redescoberta e refinada no século XX, sendo hoje considerada uma estratégia valiosa para casos que apresentam dificuldade de resposta a tratamentos convencionais.



O que é a Terapia Larval?

A terapia larval consiste na aplicação controlada de larvas estéreis da espécie Lucilia sericata, popularmente conhecidas como moscas-varejeiras, diretamente sobre a ferida ou em pequenos invólucros de malha (BioBag). Essas larvas são criadas em ambientes controlados, garantindo sua esterilidade e segurança para o uso clínico. Seu principal objetivo é remover tecido necrosado, controlar infecções e estimular a formação de tecido de granulação, essenciais para a cicatrização adequada.

Como Funciona?

A ação das larvas acontece por meio de três mecanismos principais:

  • Desbridamento Biológico: As larvas secretam enzimas proteolíticas, como colagenase e tripsina, que liquefazem o tecido necrosado, facilitando sua remoção. Cada larva pode consumir até 25 mg de tecido necrosado em 24 horas.

  • Desinfecção Natural: Elas liberam substâncias antimicrobianas, como o alantoínato de amônia, que ajudam a reduzir a carga bacteriana, combatendo microrganismos resistentes, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA).

  • Estímulo à Regeneração: As secreções larvais promovem a formação de tecido de granulação e angiogênese, processos fundamentais para a restauração do fluxo sanguíneo e a cicatrização tecidual.

Indicações de Uso

A terapia larval tem sido indicada especialmente para feridas que não respondem aos tratamentos convencionais, como:

  • Úlcera do pé diabético: Frequentemente associada a infecções graves e risco de amputação.

  • Lesões por pressão: comuns em pacientes acamados ou com mobilidade reduzida.

  • Feridas traumáticas: Resultantes de acidentes ou intervenções cirúrgicas.

  • Úlcera venosa: Causada por insuficiência venosa crônica.

  • Complicações pós-cirúrgicas: Quando há acúmulo de tecido desvitalizado e risco de infecção.

Evidências Científicas

De acordo com um estudo publicado na Revista Gestão & Saúde, que revisou ensaios clínicos randomizados, a terapia larval demonstrou ser mais eficaz na cicatrização de feridas complexas quando comparada a tratamentos convencionais, como o uso de hidrogel. Os estudos analisados apontaram que a redução do tempo de cicatrização e a diminuição do uso de antibióticos foram aspectos positivos. Além disso, o custo operacional da terapia larval é inferior em relação a outras abordagens, tornando-a não apenas eficiente, mas também economicamente vantajosa.

Benefícios e Desafios

Benefícios:

  • Acelera o processo de cicatrização, removendo tecido morto de forma seletiva;

  • Reduz a necessidade de antibióticos, combatendo infecções de maneira natural;

  • Minimiza o risco de infecções secundárias e a formação de biofilme bacteriano;

  • É uma opção viável para pacientes com contraindicação a cirurgias de desbridamento.

Desafios:

  • Aceitação psicológica do paciente em relação ao uso de larvas;

  • Necessidade de profissionais treinados para aplicação e monitoramento do procedimento;

  • Dor leve a moderada relatada durante o tratamento, que pode ser controlada com analgesia.

Considerações Finais

A terapia larval tem se consolidado como uma opção terapêutica valiosa no manejo de feridas complexas, oferecendo vantagens significativas em termos de debridamento seletivo, controle de infecções e estimulação da cicatrização. 

Apesar das evidências promissoras, a adoção ampla dessa técnica ainda enfrenta desafios, como a aceitação cultural do método e a necessidade de maior capacitação profissional para a sua aplicação correta. Ademais, estudos adicionais são fundamentais para aprimorar protocolos, consolidar sua eficácia e ampliar seu reconhecimento nas diretrizes clínicas.

A terapia larval não apenas resgata uma prática milenar sob uma perspectiva moderna, mas também abre caminho para abordagens inovadoras e menos onerosas no tratamento de feridas complexas. Seu potencial é imenso, e sua implementação, quando realizada com critério e embasamento científico, pode transformar a vida de muitos pacientes. A terapia larval tem se consolidado como uma opção viável e eficaz para o tratamento de feridas complexas, especialmente em cenários onde outras abordagens falharam. Embora ainda não seja amplamente adotada, seu potencial clínico e custo-benefício são promissores. No entanto, mais estudos são necessários para padronizar protocolos e ampliar a confiança no procedimento


FONTE

  • DALMEDICO, Michel Marcos et al. Efetividade da terapia larval na cicatrização de feridas complexas: overview de revisões sistemáticas. Rev Gestão e Saúde, v. 23, n. 1, p. 146-158, 2021. Disponível em: 10.17648/1984-8153-rgs-v1n23-11. Acesso em: 16/03/2025

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